A comunicação é um importante alicerce no relacionamento amoroso. Ela atua como se fosse uma ponte entre o que um sente/ expressa e o que o outro compreende. Quando essa ponte está instável e frágil, frequentemente, surgem mal-entendidos, conflitos e um distanciamento emocional que, muitas vezes, poderia ser evitado.

No consultório, observo diariamente como casais que se amam profundamente podem viver em universos paralelos, incapazes de realmente se conectarem. A verdade é que amar alguém não significa automaticamente saber como se comunicar com essa pessoa. A comunicação é uma habilidade — e como qualquer habilidade, pode (e deve) ser aprendida, praticada e aperfeiçoada constantemente.

Conhecer formas de melhorar a comunicação com sua parceria, pode evitar brigas desnecessárias e adotar uma abordagem mais empática e eficaz na maneira de se relacionar. Mas compreenda que ter um relacionamento saudável não significa que esteja livre de conflitos, vez por outra eles vão aparecer e o que mais importa é que o casal encontre formas de limpar ruídos de comunicação e solucioná-los.

Por que a comunicação é um desafio no relacionamento amoroso?

Não existe uma única forma de se comunicar. Em muitos casos, nenhum dos envolvidos está “errado”, mas partem de filtros comunicativos diferentes.

Mesmo com as melhores intenções, a comunicação entre casais nem sempre é perfeita.

A forma como nos comunicamos é aprendida a partir de uma combinação de diversos fatores que podem facilitar ou dificultar a nossa maneira de nos expressarmos com clareza, abertura e respeito. Nesta combinação devemos considerar as diferenças de personalidade e estilos de comunicação individuais; histórico familiar e aprendizados sobre modos aceitos de expressar sentimentos; percepção de segurança para poder ser transparente mesmo que signifique desagradar o outro, saber ser um bom ouvinte e se conectar com a fala do outro; separar eventuais ressentimentos por assuntos não resolvidos.

Desde muito cedo, buscamos nas nossas relações, atender necessidades consideradas básicas e universais a todas as culturas, como amor, segurança, validação e autonomia. Essas necessidades nos acompanham por toda a vida, mas nem sempre são tão óbvias para o outro ou mesmo para quem expressa essa falta. Um exemplo disso pode ser quando um indivíduo do casal possui dificuldade em expressar sentimentos e evita conversas importantes por medo de ser criticado ou de parecer fraco. Enquanto isso esse comportamento pode ser interpretado pela outra pessoa como indiferença, descuido ou desatenção à relação.

Quando sabemos disso, compreendemos melhor como nossos padrões emocionais formados na infância influenciam a forma como nos comunicamos e nos relacionamos quando adultos. Identificá-los e reconhecê-los pode nos ajudar a gerenciar melhor nossa comunicação com nossos pares.

O Ciclo da Comunicação Negativa

Um dos modelos que melhor explica sobre comunicação em relacionamento amoroso vem do trabalho desenvolvido por décadas, pelo psicólogo e pesquisador americano Dr. John Gottman, que identificou quatro padrões de comportamento altamente destrutivos para os relacionamentos, denominados por ele como “Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse“. São eles:

  1. Crítica: Atacar o caráter ou personalidade do parceiro em vez de focar no comportamento específico que incomoda. A crítica destrutiva ocorre quando, em vez de expressar uma queixa específica sobre um comportamento do parceiro, a pessoa ataca o caráter, a personalidade ou a essência do outro. É a diferença entre dizer “Você não lavou a louça” (queixa sobre um comportamento específico) e “Você é preguiçoso e não se importa com a casa” (crítica ao caráter).
  2. Desprezo: Considerado pelo autor como um dos aspectos mais destrutivos e importante preditor de divórcio, o desprezo se manifesta ao expressar hostilidade através de sarcasmo, cinismo, insultos, revirar de olhos e escárnio. Vai além da simples crítica, é uma forma de comunicação que transmite superioridade moral e desrespeito profundo pelo parceiro. É especialmente tóxico porque ataca diretamente o senso de valor da pessoa.
  3. Defensividade: Consiste em reagir a críticas com contra-ataques ou vitimização, recusando responsabilidade. É essencialmente uma forma de autoproteção quando nos sentimos atacados ou injustamente acusados, no entanto, esta resposta comportamental frequentemente agrava os conflitos em vez de resolvê-los. Podem ser observados em falas como: Você acha que eu sou desorganizado? Olha quem fala!”; “Sempre sou eu o culpado, nunca faço nada certo para você.”
  4. Obstrução: A obstrução ocorre quando um parceiro se desconecta completamente da interação, erguendo uma barreira que impede qualquer comunicação significativa. É essencialmente uma retirada emocional e física da conversa. Pode ser observado em não engajamento no diálogo, dizer apenas “sim”, “tanto faz”, abandonar o ambiente para evitar a continuação do assunto. Em alguns acasos esse comportamento pode demonstrar que a parceria já desistiu emocionalmente da relação.

Note que há uma diferença entre uma pausa saudável e a obstrução. Enquanto a primeira é temporária e comunicada, a segunda é indefinida e não comunicada.

Quando esses padrões se instalam, o casal entra em um ciclo de comunicação negativa que se autoperpetua e os torna menos dispostos para se vulnerabilizar e buscar aproximação.

Como melhorar a comunicação com a parceria

Melhorar o diálogo no relacionamento amoroso não significa apenas falar mais, mas aprender a expressar melhor e, principalmente, a ouvir com qualidade.

Para escutar com qualidade, é preciso praticar a escuta ativa. É mais do que apenas ouvir as palavras do outro, é demonstrar interesse genuíno, evitar interrupções e prestar atenção ao que está sendo dito não apenas com as palavras, mas com o tom de voz e a linguagem corporal. Um comportamento comum entre casais com problemas de comunicação é escutar já se preparando para rebater, se justificar ou se isentar.

Para falar melhor é importante evitar expressões de generalização como “você nunca me ouve” ou “você sempre faz isso”. Quando essas expressões são usadas, é comum que o outro sinta-se atacado e entre em um modo defensivo, o que impede uma comunicação fluida. Em vez disso, expresse seus sentimentos e necessidades, como: “eu me sinto ignorada quando tento conversar e você passa muito tempo no celular.” Veja que essa abordagem tende a reduzir o tom de acusação e aumentar as chances de o outro escutar de forma mais aberta.

Evite iniciar conversas delicadas quando um dos dois estiver cansado, com fome, estressado ou no meio de uma tarefa. Lembre-se de que o contexto é importante para que o diálogo seja produtivo. Embora planejar momentos para conversar sobre assuntos mais delicados possa parecer artificial no início, considere que criar espaços de conversa com intencionalidade pode fortalecer o vínculo.

A comunicação ocorre de diversas formas e, muitas vezes, a não verbal diz muito sobre a sua abertura, interesse e disponibilidade. Assim, a forma como você olha, se posiciona fisicamente ou gesticula pode comunicar mais do que suas palavras. Veja: como você interpreta quando está falando com alguém e esta pessoa cruza os braços, revira os olhos, suspira ou vira de costas? Normalmente esses gestos significam desdém, irritação, discordância ou indiferença. Substitua-os pelo contato visual, uma postura aberta e expressões faciais que demonstrem empatia e disponibilidade para ouvir.

Se uma conversa começa a escalar e torna-se uma discussão, é melhor fazer uma pausa. Isso não significa fugir do assunto, mas tirar um tempo, tomar um pouco de distância e retomar o diálogo depois. Essa conduta pode evitar que o conflito se intensifique e que palavras sejam ditas de forma impulsiva, o que normalmente levam ao arrependimento posterior. Lembra da ponte do começo deste texto? Pois é, um combinado maduro do casal, para esses momentos, pode ser de darem-se um tempo para pensar e voltar a conversar depois.

Como evitar brigas desnecessárias

Primeiro ponto: nem todo conflito precisa virar uma briga.

O que ocorre é que às vezes, a irritação acumulada, o estresse externo ou frustração por expectativas não comunicadas acabam sendo “despejadas” na parceria. Para evitar esse ciclo procure identificar quando você está mais vulnerável emocionalmente e evite conversar nessas horas; pequenos incômodos acumulados se transformam em grandes discussões futuramente, então evite acumular ressentimentos; lembre-se que você e sua parceria estão do mesmo lado e devem querer a conexão, não se trata de uma competição para ver quem vai vencer numa discussão. A briga é contra o problema, não um contra o outro.

Se mesmo com esforço a comunicação continua sendo fonte constante de sofrimento, pode ser o momento de procurar a ajuda de um psicólogo ou terapeuta de casais. A terapia oferece um espaço neutro e seguro para o casal se ouvir, resgatar o diálogo e aprender novas formas de se relacionar.

Na terapia, o casal pode aprender a identificar o modo de funcionamento da parceria e compreender como ocorre a combinação dos estilos individuais, aprimorar aspectos da comunicação, favorecendo relações mais equilibradas e conscientes.

Relacionamentos saudáveis não são livres de conflitos, mas sim construídos sobre uma base de respeito, escuta e empatia. Melhorar a comunicação exige disposição para olhar para si, reconhecer falhas, e se abrir ao crescimento conjunto.

Se você identifica que pode melhorar a sua comunicação, comece com pequenos passos. Uma mudança no tom de voz, um elogio espontâneo, uma escuta mais atenta. Essas atitudes, repetidas no dia a dia, vão fortalecendo o vínculo e criando um ambiente onde o amor pode continuar florescendo.

Se você sente que precisa de apoio nesse processo, saiba que buscar ajuda profissional é um sinal de maturidade e cuidado com o relacionamento amoroso. O diálogo pode, sim, ser aprendido e transformado em uma ponte sólida de conexão.

Como psicóloga clínica, estou aqui para te ajudar a encontrar clareza e reconstruir seu bem-estar emocional.